terça-feira, janeiro 31, 2012

o amor em tempos sem fronteiras.


geralmente, ele já levantava pensando nela, no que havia escrito a ela na noite anterior, nas respostas que ela havia enviado. ao tocar do despertador, ele acordava ansioso para conferir se tinha alguma mensagem dela perdida, que ele não tivesse visto antes de dormir. era a sua injeção de adrenalina matinal, o que o fazia abrir os olhos e despertar sem pensar no tamanho do sono. antes dela existir, ele demorava a levantar. ficava deitado na cama, enrolando até perder a hora de sair de casa. todos os dias, ao sair da cama, ele tomava o seu banho matinal. o tempo do banho variava de acordo com os sonhos que sonhava. arrumava o cabelo do jeito que sabia que ela gostava e passava o perfume que ela tinha comentado outro dia. olhava o reflexo no espelho e testava um olhar de sedução, que pretendia usar com ela. o café da manhã ele passava relendo as mensagens da noite anterior. todos os dias ele se vestia pensando no que ela acharia dos trajes escolhidos. colocava a cueca pensando se ela aprovaria o modelo e as cores. “vai que, né?”. na rua, andava procurando nas outras mulheres características que o lembrassem dela: um cabelo cor de petróleo aqui, uma bunda arrebitada ali, os olhos verdes daquela lá no outro lado do ônibus. “ela olhou pra mim? pô, essa dava jogo”. passava o dia no trabalho tentando se concentrar. quando ela demorava demais a responder uma mensagem, ele não conseguia trabalhar de tão ansioso. “o que ela pensou? será que não curtiu? vou mandar outra, quem sabe ela responde”. no almoço, imaginava como seria almoçar com ela naquele restaurante. gostava de imaginar o que é que ela escolheria do menu, qual bebida. “será que tomaria uma cervejinha comigo no almoço? não, ela gosta de vodka, disse ontem”. encerrado o expediente, andava pela rua como se a estivesse procurando. em cada rosto, encontrava um detalhe que o lembrava dela. todos os dias, sempre, ele estava arrumado como se fosse encontrá-la. lembrava dela a cada momento. só fazia questão de esquecer que morava em ilhéus e ela em rio claro.

sábado, janeiro 07, 2012

entreatos: o homem pós-moderno sofre mais



– calma aí, calma aí. quer dizer que você está sofrendo por causa disso? senta e escreve e, pronto, tá resolvido
– cara, você não entende. se fosse fácil assim, eu já tava terminado, pô. eu não consigo, simples assim
– tu  é muito do mimado, bróder!
– ah, vá se fudê, bróder! vai ficar me sacaneando ou vai me ajudar, porra? preciso escrever essa merda logo; quero entregar amanhã
– você não disse que tá apaixonado? escreve logo “eu te amo” e boa
– putaqueopariu! se fosse pra escrever só “eu te amo” eu comprava um cartão escrito “eu te amo”. quero dizer mais, para que ela sinta o que eu sinto por ela
– mas você quer que ela saiba o que você sente por ela ou você quer que ela sinta por você o que você sente por ela? tem que definir issaê antes
– então... é... porra, sei lá. quero os dois. na real? queria saber no que é que ela tá pensando, tá ligado? mas não tem como, né?
– é, não dá mesmo não...
– então. daí pensei em escrever algo pra que ela saiba o que eu sinto por ela e também para que ela sinta por mim o que sinto por ela, entendeu?
– tá. então você não quer sentir sozinho o que você sente por ela sem que ela sinta de volta a mesma coisa. é isso?
– bom, falando desse jeito, parece meio mesquinho... mas é mais ou menos isso daí
– daí complica...
– por que?
– se ela não estiver sentindo o mesmo que você, ela pode começar a sentir também ou pode simplesmente rir da sua cara. se ela passa a sentir o que você sente, daí beleza, mandou bem. mas se ela não estiver na mesma pegada, daí você se fodeu e ela vai ficar rindo da sua cara, hahaha
– pô, valeu, hein!? isso que é bróder mesmo
– mas é a real, hahaha!
– porra. que merda. só tô que penso nela. queria que ela pensasse em mim
– vai ver ela já tá pensando, só você não tá ligado
– é, pode ser. e como faz pra descobrir?
– sei lá...
– cê não serve pra nada mesmo!
– haha! pô, inútil é você, que tá aí saindo com ela esse tempo todo e não sabe nem o que tá rolando entre vocês
– sei que eu tô comendo ela e você não, manézão!
– haha. tá, beleza. beleza. mas então põe só um “eu te amo” e boa
– não! já falei que não. nem tô amando ela ainda. e não dá pra falar isso pela primeira vez logo por escrito. pega mal
– pega nada! “eu te amo” hoje em dia é água, tio. todo mundo usa. vê a mulecada aí, é só “eu te amo” até pra amigo
– mais um motivo pra eu não usar então. tá banalizado demais, vai pegar mal
– desisto. você não sabe o que quer, então não tem como eu te ajudar
– sei sim. quero dizer que meu coração só bate tranquilo quando ela tá por perto e que quando ela não tá a agonia me consome, o vento não bate, as horas não correm. mais ou menos isso
– aí, pronto! poetizou legal. escreve isso
– mas e se ela não estiver na mesma pegada? vou fazer papel de otário
– então não escreve nada. que que tem nesse cartão? deixa eu ver
– tem nada. só essa foto aí e esse espaço branco dentro
– você é um bundão, cara
– ah! e por que?
– bróder, escreve logo qualquer coisa e sai dessa. se ela te achar otário, melhor, você já cai fora e não perde mais tempo nessa
– sei não. tô meio apaixonadinho, manja? não sei bem lidar com isso não
– então põe algo genérico, tipo “você é linda e me faz feliz. parabéns”. papo reto
– mas não é muito curto, não? ela vai me achar um otário
– porra! para de pensar no que ela vai achar!
– é, né?
– é!
– mas não consigo...
– ... hahaha. desculpa, mas é engraçado
– e por que?
– você tá todo apaixonado, mas não sabe o que ela pensa disso, nem se ela está na mesma que você, por isso tem medo de colocar tudo a perder por causa de um simples cartãozinho de aniversário. você acha mesmo que esse cartão vai mudar alguma coisa?
– pode mudar
– desisto. preciso ir nessa, deu meu horário. depois me fala que fim levou essa história. té mais
– falou. se cuida
(…)
– e aí, cara! tudo certo? que cara é essa? entregou o cartão? que fim levou?
– é... entreguei sim. ontem de manhã
– pô, legal. e aí? o que escreveu?
– nada de mais. que ela é muito bonita e tal e que eu tô feliz com ela. essas coisas aí
– e ela?
– ela que?
– e ela? o que achou?
– não sei. não respondeu ainda
– mas você não entregou na mão dela?
– não tive coragem... deixei na caixa de correio da casa dela
– ah...
– é... e até agora... nada! nem um SMS, nada! tô aqui, angustiado. não devia ter nem enviado nada! devia ter ligado, dado parabéns e pronto
– hahahaha. você sofre à toa! tanta mulher aí no mundo
– puta merda! não sei nem porque perco meu tempo trocando ideia com você
– hahahaha. bora, vamo ali tomar uma cerveja. essa mulherada hoje em dia tá mais esperta que a gente, bróder. não vai abrir o jogo fácil pra você não
– *suspiro*