sábado, novembro 23, 2013

rascunho: nascimento

o fim
é feio
bonito é
o começo 

novo, esperançoso

maciez
pureza
inocência 

deslumbramento
por tudo que há:
porvir
sentir
sorrir

o ser, desnudo,

não
sabe
nada

sexta-feira, novembro 22, 2013

sem título 5


sentei pra fumar um cigarro defronte a nudez da noite. cada vez em quando tudo gira sentido horário. pigarro. sempre nunca é assim; parar pra pensar atrapalha o raciocínio. aquela esquina não estava ali ontem, presumo. devem tê-la dobrado hoje, só pode. nem sei mais o que faço aqui sentado. amargo esse céu estrelado. suspiro. sessenta e três, sessenta e quatro, sessenta e cinco, sessenta e seis, sessenta e sete, sessenta e oito, sessenta e nove. a noite se vestiu de nuvem. perdi o rumo. estou aqui há horas e nem fumar eu fumo.

quinta-feira, setembro 12, 2013

um depoimento: eu vivo em São Paulo sem carro (e prefiro assim).

sou paulistano nato. nascido e criado em são paulo. aprendi desde cedo a gostar dessa cidade. viver em são paulo é estressante; viver em são paulo e se locomover só de carro é ainda mais. eu percebi isso depois que comprei meu primeiro carro e passei a utilizá-lo como principal meio de transporte. tinha vinte e dois anos. antes disso, lembro-me de usar transporte público desde sempre. quando criança, morava no jaguaré e íamos até a vila mariana de ônibus para ir à escola. a linha verde do metrô ainda não existia. era uma viagem todos os dias. lembro principalmente dos retornos, sempre tarde da noite, minha mãe, minha irmã e eu em um ônibus lotado. a ingenuidade da infância nos permitia cantar a viagem inteira. "motorista, motorista; olha a pista, olha a pista". não sei como os demais passageiros aguentavam. depois, acabamos mudando para a vila mariana. lembro da primeira vez que meus pais deixaram irmos sozinho para a escola de ônibus. acho que eu tinha onze anos e minha irmã dez. era um trecho curto, menos de um quilômetro, que representavam uma responsabilidade imensa. durante a adolescência, usávamos muito o metrô e o ônibus também. tínhamos bastante liberdade de sair com amigos e ir para praticamente todos os lugares. os passes de ônibus que sobravam sempre viravam dinheiro nos carrinhos de pipoca. já no ensino médio, lembro-me de alguns amigos e eu matarmos uma manhã de aula para passear por são paulo. tudo de metrô. chegamos a pegar a linha azul na estação santa cruz e viajamos até santana, só para voltar até a estação paraíso e caminhar pela avenida paulista inteira sentido consolação. nessa época já havia a linha verde, mas nossa diversão era matar aula e o tempo andando pela avenida mais famosa de são paulo. depois, na época de curso pré-universitário, era metrô todos os dias logo cedo. foi uma época boa. sempre voltava para casa acompanhado da minha, então futura, hoje atual, esposa. foi nesse trajeto diário entre o curso na estação são joaquim até a estação vila mariana que nos conhecemos melhor e, depois de muitas discussões, finalmente acabamos juntos (e doze anos já se passaram desde então). durante a faculdade, eu e minha irmã dividíamos o carro. era assim: nós dois estudávamos nas perdizes; ela de manhã e eu à noite. logo cedo, ela pegava o carro e ia para a aula. deixava estacionado em uma garagem e voltava de transporte público ou carona para casa. eu estagiava no centro de são paulo nessa época e ia para a faculdade no fim do dia de carona ou de ônibus. depois da aula, buscava o carro na garagem e voltava para casa. fizemos isso durante uns dois ou três anos. foi por essa época que percebi como usar o carro como principal meio de transporte não é somente estressante, mas também extremamente alienante. tinha vinte e dois anos e estava com um carro novo, recém-comprado. um sonho. logo me acostumei com esse conforto. é fácil: meu carro, minha música, meu ar-condicionado. minha ilha, meu mundo. e isso realmente faz a gente se sentir importante. mas os anos foram passando e eu me sentia um idiota toda vez que os carros iam mais devagar que as pessoas caminhando; toda vez que eu percebia que, no fim, estava em uma ilha de conforto, sozinho, sem interagir com ninguém, isolado do mundo e da cidade; toda vez que eu me tornava uma pessoa mais agressiva do que me considero e me irritava com outros motoristas e pedestres. isso tudo me incomodava muito, mas eu me sentia preso àquilo. era o padrão e ainda tinha o status de ter o seu próprio carro. algo um tanto quanto provinciano para alguém nascido e criado em uma cidade que se diz tão cosmopolita. alguns anos passaram e, então, tive a oportunidade de morar em londres para estudar. vender meu carro foi a maior liberdade que eu senti. voltei catorze meses depois e decidi que não usaria mais carro no meu dia a dia. dois anos se passaram desde então e continuo, firme e forte, indo e voltado todos os dias de transporte público. de manhã, caminho até a estação chácara klabin, faço baldeação na estação consolação para a estação paulista, desço na estação faria lima e pego algum ônibus que vá sentido itaim bibi. desço na avenida faria lima, um ponto antes da rua tabapuã. na volta, pego um ônibus na avenida tabapuã e vou direto até a estação vila mariana. quando demora muito, pego qualquer ônibus que suba até a avenida paulista e pego o metrô até a estação chácara klabin. adaptei minha rotina para isso. uso tênis para as caminhadas, sempre levo um livro comigo e música. quando saio muito tarde do trabalho e não tem ônibus disponível eu vou de táxi. já teve dias que caminhei oito quilômetros desde a avenida faria lima até a chácara klabin porque o trânsito estava insuportavelmente parado. fui feliz. senti até um prazer de ver todo mundo parado e eu, dessa vez, era o pedestre caminhando mais rápido que os carros. também já fiz uso das bicicletas compartilhadas. minha maior dificuldade quanto a isso é logística, pois trabalho com roupa social formal e não tenho um local adequado para me trocar. eu tenho consciência que morar na região central da cidade facilita muito a minha vida. tenho inúmeras opções para ir de um lugar ao outro. sei que a maioria dos moradores de são paulo que moram em regiões mais afastadas não têm esse mesmo privilégio. acredito, porém, que é possível, sim, viver sem carro em são paulo. com algumas adaptações e, principalmente, criando-se a consciência coletiva de que o transporte público é melhor, mais rápido e mais agradável para todos. com certeza muita coisa pode ser melhorada. por exemplo, a maioria dos motoristas de ônibus andam tão pressionados pelas empresas ou pela prefeitura em cumprir horários (ou simplesmente são mal preparados e mal educados) que esquecem que estão transportando pessoas: aceleram rápido demais, param com tudo, andam acima do limite de velocidade, desrespeitam sinais de trânsito, outros motoristas e, principalmente, os ciclistas etc. isso precisa mudar. também acho que os pontos de ônibus são contra-intuitivos e muito próximos uns dos outros. as pessoas podem andar mais; não precisa ter um ponto em cima do outro. hoje, dois anos depois de voltar para são paulo e de me locomover pela cidade por transporte público no meu dia a dia, tenho certeza que essa é a melhor opção. tive muitos benefícios pessoais desde que decidi por esse caminho e acredito que a cidade pode se beneficiar com uma mudança de consciência que passe a privilegiar a locomoção em massa em detrimento do veículo particular. é o que espero para o futuro.

sexta-feira, julho 05, 2013

liberdade é, ser também.



muito quero, tanto que nego. rejeito. repenso. recomeço.

à beira. o samba sustenta o passo. o surdo evita o atraso. desfaço-me. caio. sem eira. 
nem queira. ser longe já é inteiro. respeite o ritmo. serpenteia. do chão não passa. rasteja. poeira. por sobre tudo. permeia. a chuva cai, seca.

ateia. o fogo é brando. não queima. o som é bruto. acalmo. silêncio que ouço, calo. 
há telha. um teto um chão. paixão. medo do escuro. eu juro. estrelas. canseira. você que diz, insisto. ser feliz é... desisto.

ferina. ignóbil tentação. sensata, afirma. quero (longe). desvira.

é tão bom libertar-se de fazer sentido.

quinta-feira, junho 20, 2013

vamos brincar de o mestre mandou

ATENÇÃO!

Devido aos acontecimentos dos últimos dias e à bagunça generalizada, estou me auto declarando dono do protesto. Escolham suas causas e saiam às ruas. Só me avisem antes.

Como dono do protesto, meu primeiro ato é organizar a bagaça toda:

- MPL e simpatizantes do passe livre: devem se encontrar na praça do ciclista portando bicicletas e equipamentos de segurança.

- Quem for contrário à PEC37: encontro na rua riachuelo em frente ao prédio do ministério público portando instrumentos de investigação.

- Todos que forem contra o Marco Feliciano: encontro em frente à sede da IURD no Brás portando as falácias bíblicas.

- Quem for contra a Copa: protesto tem que ser em Itaquera (óbvio!) portando elementos festivos e caxirolas pra jogar nos polícia.

- Quem for contra os protestos: concentração na Oscar Freire portando cartões de crédito e narizes de palhaço.

- Quem só quer vandalizar: encontro na Oscar Freire também. Não precisam ir armados. Usem da persuasão.

- Quem for contra a corrupção: favor dirigir-se ao cantinho da reflexão de suas próprias consciências portando auto crítica.

- Quem for contra o direito de protestar: aliste-se na polícia militar mais próxima.

- Aqueles que pedem "mudança": favor decidir se querem mudar pra melhor ou pior, para que eu possa designar o local do protesto.

Organizados os pontos de concentração, ninguém precisa marchar pra lugar nenhum. Façam uma ciranda. Se preferirem, podem sentar e fazer um corre cotia. Tá liberado também.

Em caso de dúvidas, falem comigo pela hashtag #donodoprotesto no twitter. Obrigado e não precisam agradecer de volta.

Saudações,
O dono do protesto.

terça-feira, maio 28, 2013

sem título número 4


todos têm direitos. o direito de crer e não pensar em nada. o direito de adorar e se iludir. o direito de explorar e de se revoltar. o direito de errar e de perdoar. o direito de perdoar e se deixar enganar. o direito de temer e enfrentar. o direito de dizer e se arrepender. o direito de ir e voltar atrás. o direito de calar e se fazer notar. o direito de ser e se deixar levar.

domingo, março 03, 2013

o tempo é um senão.

o agora é uma ficção.
o passado é uma prisão.
o futuro é uma ilusão.


sábado, março 02, 2013

resquícios de uma mente sem lembranças.

arrisco-me em vão. caio ao chão. grito: "ladrão!". prendem-me, então.sigo em frente. afirmo-me inocente. ninguém entende. "esse não é gente".aceito, enfim. a pena é pra mim. antes isso que o fim. melhor assim.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

O Direito que não se opõe ao esquerdo.


O que é mais importante no Direito? As leis? Não. As leis formam a estrutura do Direito. Os juízes, advogados, legisladores, promotores? Não. Esses são grandes personagens do Direito, mas não representam o que há de mais importante. O mais importante no Direito são as pessoas. As leis são alteradas, ficam antiquadas e são alteradas novamente. Os personagens do mundo jurídico (advogados, juízes, promotores) não passam de ficção criada pela lei, obrigados a aplicá-la. Não passam de meros reféns da legislação. Atuam em observância dos preceitos legais. As pessoas, essas sim, representam o que há de mais importante no Direito. Isso não é abordado no ensino jurídico com a importância que deveria. Ora, toda a teoria jurídica é facilmente aprendida na prática.
Seria muito importante que as escolas de Direito iniciassem os cursos com uma grade integral dedicada apenas ao estudo da sociologia, antropologia e história. Ao mesmo tempo, psicologia, técnicas de negociação e interação social. O Direito não é sinônimo de litígio. O Direito deve estar a serviço das pessoas, para que ela resolvam os seus problemas jurídicos da forma menos traumática possível. Um advogado ou um procurador não pode ter como prioridade vencer o caso simplesmente, pois nem sempre vencer um caso corresponde à melhor solução para um litígio. Há pessoas envolvidas.
As escolas jurídicas precisam, antes de tudo, ensinar seus alunos a pensarem o Direito não como um instrumento para a solução judicial de conflitos, mas como uma ferramenta de transformação social.