domingo, dezembro 14, 2008

Fim de ano em São Paulo: trânsito, definitivamente.


Quase uma hora para ir da Consolação ao Paraíso.



Seria um tempo muito bom e até mesmo rápido para se adentrar no reino dos céus, se, na realidade, eu não estivesse falando de atravessar a Avenida Paulista desde a estação de metrô Consolação até a estação Paraíso, de carro.


As empresas encheram os prédios com luzes de natal, um papai noel a cada esquina, shows dançantes. A Associação Viva Paulista, em parceria com a Prefeitura, também enfeitaram o canteiro central. Ficou realmente muito bonito de se ver. Uma pena que a cidade já não comporte mais tantos carros e as pessoas ainda prefiram fazer esses tipo de passeio de carro. Eu não estava passeando, estava voltando lá da Marquês de São Vicente, para onde preferi ir de carro por ser muito longe de casa. E tive que passar pela Paulista. É sempre preferível andar de metrô ou ônibus. Se bem que eu não gosto de ter que contar com as linhas de ônibus de São Paulo, pois sempre tem atraso e com o trânsito... é um ciclo vicioso.


Enfim, passar o mês de dezembro em São Paulo significa ver montes de luzes de natal (aliás, qual o propósito do horário de verão se gastam mais energia com essas luzinhas?), a democratização do papai noel (um em cada esquina), centros comerciais "populares", shoppings de "classe média" e "classe alta" com gente saindo pelo ladrão, querendo comprar os presentes de Natal (que já se tornou a data mais consumita do ano)... melhor nem sair de casa nessa época do ano!

domingo, dezembro 07, 2008

Jorge Elias Não Era Mau.


Jorge Elias não era mau. Não. Ele tinha um lado sádico que o incentivava a fazer coisas que o enchiam de satisfação. Gostava de sair com o carro em dia de chuva para passar pelas poças d'água e molhar as pessoas nas paradas de ônibus. Sentia prazer nisso. Imaginava os xingamentos que lhe eram dirigidos e as pessoas molhadas se atrasando para os compromissos. Seus dias eram sempre parecidos: acorda, desjejum, banho, jornal, TV, almoço, entrevistas para empregos, boteco, cerveja, bilhar, janta, banho, cama. A ordem variava de dia a dia, para não cair na rotina, como ele muitas vezes repetia. Nem sempre ele aparecia nas entrevistas, pois achava perda de tempo. Com apenas vinte e um anos, era óbvio que ainda não tinha a experiência exigida para a maioria das vagas. É bem verdade que nunca se esforçou para obter uma qualificação profissional, mas já havia trabalhado em inúmeros lugares: fora entregador de remédios de uma farmácia (mas teve que ser demitido pelo "sumiço" de vários medicamentos tarja preta), também trabalhara como Office boy de uma firma de advogados (mas sua demissão foi inevitável após tomar os iogurtes que o patrão guardava na geladeira da copa) e ainda tinha experiência como garçom em um bar (mas foi tão pouco tempo que quase não deu tempo dele aprender nada).

Naquela manhã, porém, Jorge Elias acordou do avesso. Não sem motivo: a noite tinha sido agitada, com sonhos estranhos. Alguns reveladores, outros beirando o pesadelo. A camisa molhada era indício da aflição que durou toda a suada noite. Levantou-se num susto e pulou da cama, em direção ao banheiro. Sua mãe até estranhou, pois o desjejum já estava na mesa. Menino atrevido, além de ficar o dia todo na rua, agora vai dar de não tomar café pela manhã? Ah, mas se o pai dele ainda fosse vivo... Dona Clarice fazia vistas grossas para a vida desregrada de seu filho, um pouco por sentir-se impotente, um pouco por projetar na ausência do pai as razões para o filho ser do jeito que era, aliviando a culpa que sentia. Jorge Elias, então, passou voando pela cozinha, beijou a mãe de passagem e saiu. Volto só à noite, se despediu. A mãe nem mais ficava animada. No começo achava que o filho ia arranjar algo logo, mas depois de quatro meses de sai-de-manhã-e-volta-de-noite, sem nenhum sucesso, já não sabia mais o que pensar.

Jorge Elias saiu e foi para a rodoviária. Passou na bilheteria e, ofegante, pediu Uma passagem para Bertioga, faz favor? Havia juntado os trocados que ficavam no vaso da mesa de jantar da sala com o pouco que guardava na bagunça de seu quarto. E quem disse que ele foi fazer algo especial, algo de outro mundo, algo divino? Ele só havia sonhado com o mar e queria conhecê-lo. Daquele dia não poderia ter passado, como, de fato, Jorge Elias não deixou passar.