quinta-feira, julho 22, 2010

A felicidade, essa superestimada.


O que faz você feliz? O que é ser feliz? Como se mede a felicidade?


Tenho a impressão que muitas pessoas nunca chegam a se fazer essas perguntas e, muito menos, procuram tentar respondê-las. Ainda que as pessoas não estejam necessariamente preocupadas em saber o que é a felicidade ou o que as fazem felizes, a grande maioria busca essa tal felicidade.

Independente do que entendo (ou ignoro) sobre a felicidade, fato é que o Congresso Nacional brasileiro está se movimentando para garantir o direito à busca da felicidade pelos cidadãos brasileiros. É isso mesmo: existe um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que pretende incluir a “busca da felicidade” no capítulo da Constituição Federal que trata dos direitos sociais (mais precisamente, no artigo 6º).

O projeto vem sendo chamado de "PEC da Felicidade" e é promovido pelo Movimento Mais Feliz.

A ideia pode ser muito bonita, todavia, na minha opinião, essa "PEC da Felicidade" não muda nada. É muita retórica e demagogia para pouca ação. Mesmo sabendo que a PEC não pretende garantir a felicidade, mas, sim, a sua busca por cada cidadão, não consigo concordar.

Primeiro, porque sou da opinião que isso não precisa estar escrito na Constituição. Até por conceito, a Constituição não deve se prestar a estabelecer uma garantia social carregada de tanta subjetividade quanto a "busca da felicidade".

Segundo, porque, sinceramente, estando escrito ou não, não vai fazer a menor diferença. O que faria a diferença seria efetivamente buscar a educação, a saúde, etc. (o que, diga-se, já está previsto na Constituição, nesse mesmo artigo 6º que se busca alterar pela "PEC da Felicidade" - e, até hoje, não vemos grandes mudanças...). A felicidade, daí, poderia vir como consequência (ou não, pois depende de cada pessoa). Em resumo, não é a inclusão desse texto que vai fazer a diferença.

Finalmente, e o mais importante, eu não consigo concordar com a PEC porque ela parte da premissa de que existe uma tal felicidade, plena e irrestrita, possível de ser usufruída por toda e qualquer pessoa, desde que garantidos determinados direitos sociais.

A verdade é que a tal da felicidade é algo bastante superestimado pela sociedade moderna e capitalista, que a idolatra e a coloca como um objetivo final a ser alcançado, ao lado da glória, da fama e do dinheiro.

O que vejo por aí sobre a felicidade é um conceito muito superestimado, utópico, inatingível e distante da realidade, pelo qual a felicidade sempre estará dois passos adiante de onde nos encontramos. A busca pela felicidade, então, se torna uma pressão desnecessária e que dificulta a conjugação do verbo viver.

Eu procuro não tentar descobrir onde está a felicidade. A bem da verdade, já desisti de a procurar. Não porque eu tenha concluído que ela não existe ou porque entenda que ela seja inatingível. Mas, sim, porque passei a acreditar que buscar ou não a felicidade não é o mais importante. Se ela existe ou não, o que ela significa e representa, se está próxima ou distante, não é algo que me interessa.

Reconheço ter vivido muitos momentos felizes e dou valor a cada um deles. Prefiro, porém, não carregar o fardo de ter a felicidade como objetivo. Apenas desejo que ela dê as caras de tempos em tempos, aleatória e despretensiosamente.

Talvez simplesmente não exista a felicidade plena, tal como retratada em filmes, novelas, etc., mas momentos felizes, que muitas vezes não são notados de imediato, senão depois de vividos. E acho que isso basta.

* * *

Para maior reflexão, para quem se interessar, deixo abaixo os trechos e os respectivos links para três textos sobre o assunto:
O que é a felicidade? Como você define a felicidade? Os filmes nos mostram uma utópica. Os romances, idem. Eu sonho com um dia na praia, coqueiros, céu azul, sem nuvens de preferência, com uma linda mulher e uvas sendo colocadas na minha boca. Acho difícil que aconteça, mas quem sabe.Tudo é tão pretensioso. Tudo deve ser tão sofisticado. Nunca estamos satisfeitos com o que temos. Aposto que se eu estivesse na praia, com os coqueiros, um lindo dia e uma linda mulher, ainda me faltaria a sombra.
Em matéria de felicidade, os governos podem oferecer as melhores condições possíveis para que cada indivíduo persiga seu projeto - por exemplo, como sugere a emenda constitucional proposta, garantindo a todos os direitos sociais básicos. Mas o melhor governo é o que não prefere nenhuma das diferentes felicidades que seus sujeitos procuram.
(O Direito de Buscar a Felicidade por Contardo Calligaris)

Em minha modesta opinião, o ponto fraco desse artigo, e de outros similares, dessas pesquisas, e de outras similares, é uma completa incapacidade de definir.... felicidade! Afinal, o que é felicidade? É um estado de êxtase? São momentos de transcendência? É simplesmente a ausência de dor? É o prazer? Como medir isso de forma objetiva? Como medir isso de forma objetiva para pessoas de culturas diferentes, com valores diferentes, com prioridades diferentes?
* * *

A maior certeza sobre a felicidade foi cantada por Vinícius de Moraes e Tom Jobim:
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.
Abaixo, a interpretação de Tom Zé:

2 comentários:

  1. A felicidade de uns está no conteúdo de uma 51, para outros deste mesmo grupo está na incineração de um baseado de Cannabis Sativa.

    Para o Cristovam Buarque, ela se encontra rotulada em mais artigo ou parágrafo da constituição.

    Entre um trago e uma tragada eles acreditam que aqui seja a Shangri-lá sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, com a convivência harmoniosa entre pessoas das mais diversas procedências.

    Um abraço

    Airton.

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  2. http://www.youtube.com/watch?v=-tkSFVagWeA

    Felicidade - Liuz Tatit

    Não sei porque eu tô tão feliz
    Não há motivo algum pra ter tanta felicidade
    Não sei o que que foi que eu fiz
    Se eu fui perdendo o senso de realidade
    Um sentimento indefinido
    Foi me tomando ao cair da tarde
    Infelizmente era felicidade
    Claro que é muito gostoso
    Claro que eu não acredito
    Felicidade assim sem mais nem menos é muito esquisito

    Não sei porque eu tô tão feliz
    Preciso refletir um pouco e sair do barato
    Não posso continuar assim feliz
    Como se fosse um sentimento inato
    Sem ter o menor motivo
    Sem uma razão de fato
    Ser feliz assim é meio chato
    E as coisas nem vão muito bem
    Perdi o dinheiro que eu tinha guardado
    E pra completar depois disso
    Eu fui despedido e estou desempregado
    Amor que sempre foi meu forte
    Não tenho tido muita sorte
    Estou sozinho, sem saída
    Sem dinheiro e sem comida e feliz da vida

    Não sei porque eu tô tão feliz
    Vai ver que é pra esconder no fundo uma infelicidade
    Pensei que fosse por aí, fiz todas terapias que tem na cidade
    A conclusão veio depressa
    Sem nenhuma novidade
    O meu problema era felicidade
    Não fiquei desesperado, não
    Fui até bem razoável
    Felicidade quando é no começo ainda é controlável

    Não sei o que foi que eu fiz
    Pra merecer estar radiante de felicidade
    Mais fácil ver o que não fiz
    Fiz muito pouca coisa aqui pra minha idade
    Não me dediquei a nada
    Tudo eu fiz pela metade
    Por que então tanta felicidade?
    E dizem que eu só penso em mim
    Que sou muito centrado, que eu sou egoísta
    Tem gente que põe meus defeitos
    Em ordem alfabética e faz uma lista
    Por isso não se justifica tanto privilégio de felicidade
    Independente dos deslizes
    Dentre todos os felizes sou o mais feliz

    Não sei porque eu tô tão feliz
    E já nem sei se é necessário ter um bom motivo
    A busca de uma razão me deu dor de cabeça, acabou comigo
    Enfim, eu já tentei de tudo
    Enfim eu quis ser conseqüente
    Mas desisti, vou ser feliz pra sempre
    Peço a todos com licença
    Vamos liberar o pedaço
    Felicidade assim desse tamanho só com muito espaço.

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