Tenho pensado bastante sobre um assunto relacionado a ele: muitas vezes sinto-me refém da tecnologia. Algo como um "vício consciente", que reconheço como tomando muito mais do meu tempo em determinados momentos do que eu gostaria, mas que, ainda sim, não consigo deixar de lado. A tecnologia pode ser uma distração constante, irritante. Ao mesmo tempo, permite coisas até pouco tempo impensáveis: guardar todas as músicas preferidas em uma caixa de fósforos ou carregar uma biblioteca inteira em um único livro.
Talvez seja uma questão de saber encontrar o ponto de equilíbrio.
Sim, toda pessoa deve ter a mesma oportunidade de ser ela mesma. Em outras palavras, toda pessoa deve ter a mesma oportunidade de ser desigual, de ser única. As oportunidades podem ser oferecidas, mas o matemático tem de se tornar matemático e o músico tem de se tornar músico ~ Osho
Tenho refletido bastante sobre o tema ‘educação’ nos últimos tempos. Cheguei a mencionar em um post de novembro de 2010 que o sistema educacional brasileiro precisa ser reestruturado (aqui). Como em tudo nessa vida, estou longe de entender completamente todos os problemas existentes. No entanto, do que já matutei, eu arrisco afirmar que o atual modelo educacional adotado e os métodos de ensino utilizados estão bastante ultrapassados (e isso não é exclusividade do Brasil).
Em geral, o modelo ainda hoje utilizado remonta à Revolução Industrial (século 18). Quando idealizado pelos pensadores iluministas, fazia sentido um sistema educacional rígido e classificativo. Vários elementos desse sistema educacional são extremamente semelhantes ao ambiente de uma fábrica. Não é à toa que (a) as aulas seguem sempre um padrão de tempo determinado com intervalos programados (turnos e intervalos de trabalho), (b) com sinal sonoro entre uma aula e outra avisando o início e o fim dos turnos, digo, das aulas (apito das fábricas) e (c) privilegiando a individualidade, proibindo a cola ou a consulta (em geral, as atividades fabris eram especializadas e realizadas individualmente, em um ambiente não-colaborativo).
Àquela época, era importante que a educação visasse qualificar potenciais trabalhadores a serem futuramente inseridos em um sistema capitalista industrial. A educação tinha uma evidente utilidade econômica: capacitar mão de obra qualificada para o trabalho nas fábricas. A educação podia ser qualificada pela sua utilidade. As áreas de conhecimento poderiam ser divididas de acordo com a sua necessidade econômica (muito embora nunca tenham sido oficialmente classificadas dessa maneira): economicamente úteis (tais como matemática e ciências) e economicamente inúteis (tais como artes e música).
Hoje em dia, as escolas já não mais atendem as exigências de um capitalismo evoluído, voltado para a prestação de serviços e cada vez mais compartimentado em especialidades cada vez mais específicas. Isso sem mencionar um fenômeno relativamente recente: a colaboração e o trabalho coletivo, que não é o infame ‘trabalho em equipe’, mas um trabalho coletivo e colaborativo, conseqüência da internet, comunicação instantânea, mídias sociais, etc.
É evidente que, em função da própria evolução do sistema capitalismo, o mercado de trabalho expandiu além do que imaginado séculos, décadas, meses, semanas e até mesmo dias atrás. Novas profissões surgem a cada semana e é impossível saber quais as profissões relevantes do futuro. Um fato interessante a esse respeito é a desatualização praticamente instantânea de todas as referências usadas no ensino tradicional. Hoje em dia, as informações se propagam muito rapidamente, tudo está em um estado de mudança constante (se é que é possível algo tão paradoxal quanto um ‘estado de mudança’). As verdades absolutas ensinadas nas escolas mudam completamente de um ano letivo para o outro ou mesmo durante um bimestre para o outro.
Ora, nesse cenário, como fazer para preparar os alunos para o futuro? Esse é o grande dilema que o sistema de educação atual não tem condições de resolver, justamente por ser tão rígido e baseado somente no conhecimento já sedimentado, não viabilizando uma educação menos rígida e mais dinâmica. Parece-me que não faz mais sentido dividir o currículo escolar em humanas, biológicas e exatas, ou, até mesmo, em matérias pré-definidas (matemática, química, biologia, geografia, história, física, etc.). A interdisciplinaridade é a nova regra: há muita física na geografia, assim como há muita química na biologia; muita história na literatura e na dança; muita geografia nas artes; muita matemática na música, etc. O ensino impositivo e estratificado deixa de atender às novas demandas profissionais e, pior!, deixa os estudantes extremamente entediados, dispersos e insatisfeitos. Isto, porque não são estimulados a desenvolver as suas habilidades inatas. Pelo contrário. São moldados ao sistema educacional e obrigados a se adaptarem a ele.
A palestra registrada no vídeo abaixo é bastante elucidativa a esse respeito. O Sir Ken Robinson apresenta um panorama histórico e afirma que a educação dentro desse método de ensino foi modelada exclusivamente para atender os interesses do industrialismo. Ao final, ele conclui que um novo método deve ser experimentado, com uma nova dinâmica no ensino dos alunos. É o que ele chama de ‘novos paradigmas’ da educação:
O Sir Ken Robinson faz referência a um estudo longitudinal muito interessante, no qual o nível de ‘genialidade’ de crianças foi avaliado ao longo do tempo. Primeiro, no jardim de infância e depois, novamente, com 8-10 anos, 13-15 anos e assim por diante. O resultado foi surpreendente: 98% das crianças no jardim de infância apresentavam um nível de ‘genialidade’ elevado, o qual foi diminuindo gradativamente conforme elas foram envelhecendo ou, como afirma Sir Robinson, foram sendo educadas dentro do atual método de ensino.
Há questões muito mais profundas levantadas a esse respeito, como, por exemplo, se é possível a quebra de paradigma a partir da adoção de um novo modelo educacional, ou ainda se essa quebra de paradigma devia levar em consideração o mercado profissional tal como ele se encontra estruturado hoje ou simplesmente deveria focar em uma educação abrangente e não especializada.
Em minha opinião, um novo sistema de ensino precisa ser pensado. O ser humano tem que estar em foco e não o mercado profissional. A educação tem que ser eficaz para os alunos, para que possam desenvolver as suas habilidades inatas. Talvez seja algo que ainda esteja muito distante de acontecer na vida real. A educação é, certamente, um dos instrumentos mais poderosos de uma sociedade. A partir dela, toda uma estrutura pode ser construída ou desenvolvida para permitir mudanças comportamentais e culturais (transformação social). Ainda assim, essas são questões que, acredito eu, deveriam ao menos entrar em pauta para discussão.
Abaixo, alguns trechos e os links paratextos interessantes a esse respeito.
I'm not saying she should have fought him (and I'm not not saying it, either), but what kind of school doesn't want a kid to stand up to a bully, especially when they're doing it to help someone else? What kind of crazy school wants you to back down-- and get someone else to protect you? What kind of a maddening school indoctrinates kids that power is only allowed to be possessed by a) bad people; b) the authorities?Oh. All of them ~The Last Psychiatrist
Na verdade, o que eu estou dizendo é apenas que temos que ficar menos conformados em encher o nosso HD com coisas que já falaram. Temos que desafiar o aluno a pensar, criar, conjecturar, e não memorizar.
(…) Essa semana, estive num programa de TV e a apresentadora falou que ‘a escola tem que ser chata, pois chega uma hora que o aluno tem que parar e ouvir’. Sou radicalmente contrário a esse ponto de vista. O aluno tem que parar e ouvir, sim. Mas não por força da chatice, e sim por interesse próprio ~ Perestroika
Terminando o último ano do colégio, da faculdade, do mestrado, do pós-doutorado? Decidindo se vai estudar Medicina ou Artes do Corpo? Ou se arrependendo de ter feito Ciências da Computação? Entrando na igreja pra casar com o/a namorado/a recente, desconhecido/a, antigo/a, de infância? Ou dizendo não no altar? Tendo o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto filho? Ou decidindo que não quer ter filhos e que é isso mesmo? Sendo promovida/o para o cargo que você tanto queria? Adorando cada dia de trabalho, como se fosse o primeiro? Trabalhando no mesmo lugar, apesar de sofrer diariamente com isso? Trocando de profissão, buscando algo que a/o faça feliz? Enchendo a cara todos os dias para aturar o trânsito, a poluição, as responsabilidades, a pressão, a rotina? Reencontrando velhos amigos que há cinco anos você não vê?
O que você estará fazendo daqui a cinco anos? É isso mesmo que você quer? Você pensou, planejou, refletiu e decidiu isso para você?
Tudo que acontece em nossas vidas é nossa única e exclusiva responsabilidade. É fácil deixar-se levar com o auto-engano do cérebro ativado e descobrir milhares de motivos que confortam e justificam as coisas que não aconteceram do jeito que a gente queria. A verdade é que tudo o que acontece é fruto direto de uma decisão tomada em algum momento. Daqui a cinco anos você pode estar fazendo algo que você quer muito ou pode simplesmente estar sendo levada/o pela rotina. E a rotina é uma merda. Ela limita, tira o foco, domestica seus instintos, desvirtua suas vontades, faz até mesmo você pensar que quer algo que, na verdade, você nunca nem desejou.
Vivamos, sobrevivamos, sigamos em frente – porque não há outro caminho a seguir. Mas paremos, pensemos, reflitamos. A vida é nossa, as decisões são nossas. Ninguém pode decidir por nós. Daqui a cinco anos talvez não nos importemos mais com tudo isso, talvez não saibamos mesmo o que queremos e... a vida é assim mesmo, paciência. Talvez daqui a cinco nem nos falemos mais. Ou, quem sabe, em cinco anos, provaremos o contrário e nos encontraremos para tomar um açaí com goiaba ou um chopp gelado. E o assunto desse nosso encontro dependerá das decisões que estamos tomando hoje.
Trilha sonora sugerida: Noah and The Whales performing ‘5 years time’: