– calma aí, calma aí. quer dizer que você está sofrendo por causa disso? senta e escreve e, pronto, tá resolvido
– cara, você não entende. se fosse fácil assim, eu já tava terminado, pô. eu não consigo, simples assim
– tu é muito do mimado, bróder!
– ah, vá se fudê, bróder! vai ficar me sacaneando ou vai me ajudar, porra? preciso escrever essa merda logo; quero entregar amanhã
– você não disse que tá apaixonado? escreve logo “eu te amo” e boa
– putaqueopariu! se fosse pra escrever só “eu te amo” eu comprava um cartão escrito “eu te amo”. quero dizer mais, para que ela sinta o que eu sinto por ela
– mas você quer que ela saiba o que você sente por ela ou você quer que ela sinta por você o que você sente por ela? tem que definir issaê antes
– então... é... porra, sei lá. quero os dois. na real? queria saber no que é que ela tá pensando, tá ligado? mas não tem como, né?
– é, não dá mesmo não...
– então. daí pensei em escrever algo pra que ela saiba o que eu sinto por ela e também para que ela sinta por mim o que sinto por ela, entendeu?
– tá. então você não quer sentir sozinho o que você sente por ela sem que ela sinta de volta a mesma coisa. é isso?
– bom, falando desse jeito, parece meio mesquinho... mas é mais ou menos isso daí
– daí complica...
– por que?
– se ela não estiver sentindo o mesmo que você, ela pode começar a sentir também ou pode simplesmente rir da sua cara. se ela passa a sentir o que você sente, daí beleza, mandou bem. mas se ela não estiver na mesma pegada, daí você se fodeu e ela vai ficar rindo da sua cara, hahaha
– pô, valeu, hein!? isso que é bróder mesmo
– mas é a real, hahaha!
– porra. que merda. só tô que penso nela. queria que ela pensasse em mim
– vai ver ela já tá pensando, só você não tá ligado
– é, pode ser. e como faz pra descobrir?
– sei lá...
– cê não serve pra nada mesmo!
– haha! pô, inútil é você, que tá aí saindo com ela esse tempo todo e não sabe nem o que tá rolando entre vocês
– sei que eu tô comendo ela e você não, manézão!
– haha. tá, beleza. beleza. mas então põe só um “eu te amo” e boa
– não! já falei que não. nem tô amando ela ainda. e não dá pra falar isso pela primeira vez logo por escrito. pega mal
– pega nada! “eu te amo” hoje em dia é água, tio. todo mundo usa. vê a mulecada aí, é só “eu te amo” até pra amigo
– mais um motivo pra eu não usar então. tá banalizado demais, vai pegar mal
– desisto. você não sabe o que quer, então não tem como eu te ajudar
– sei sim. quero dizer que meu coração só bate tranquilo quando ela tá por perto e que quando ela não tá a agonia me consome, o vento não bate, as horas não correm. mais ou menos isso
– aí, pronto! poetizou legal. escreve isso
– mas e se ela não estiver na mesma pegada? vou fazer papel de otário
– então não escreve nada. que que tem nesse cartão? deixa eu ver
– tem nada. só essa foto aí e esse espaço branco dentro
– você é um bundão, cara
– ah! e por que?
– bróder, escreve logo qualquer coisa e sai dessa. se ela te achar otário, melhor, você já cai fora e não perde mais tempo nessa
– sei não. tô meio apaixonadinho, manja? não sei bem lidar com isso não
– então põe algo genérico, tipo “você é linda e me faz feliz. parabéns”. papo reto
– mas não é muito curto, não? ela vai me achar um otário
– porra! para de pensar no que ela vai achar!
– é, né?
– é!
– mas não consigo...
– ... hahaha. desculpa, mas é engraçado
– e por que?
– você tá todo apaixonado, mas não sabe o que ela pensa disso, nem se ela está na mesma que você, por isso tem medo de colocar tudo a perder por causa de um simples cartãozinho de aniversário. você acha mesmo que esse cartão vai mudar alguma coisa?
– pode mudar
– desisto. preciso ir nessa, deu meu horário. depois me fala que fim levou essa história. té mais
– falou. se cuida
(…)
– e aí, cara! tudo certo? que cara é essa? entregou o cartão? que fim levou?
– é... entreguei sim. ontem de manhã
– pô, legal. e aí? o que escreveu?
– nada de mais. que ela é muito bonita e tal e que eu tô feliz com ela. essas coisas aí
– e ela?
– ela que?
– e ela? o que achou?
– não sei. não respondeu ainda
– mas você não entregou na mão dela?
– não tive coragem... deixei na caixa de correio da casa dela
– ah...
– é... e até agora... nada! nem um SMS, nada! tô aqui, angustiado. não devia ter nem enviado nada! devia ter ligado, dado parabéns e pronto
– hahahaha. você sofre à toa! tanta mulher aí no mundo
– puta merda! não sei nem porque perco meu tempo trocando ideia com você
– hahahaha. bora, vamo ali tomar uma cerveja. essa mulherada hoje em dia tá mais esperta que a gente, bróder. não vai abrir o jogo fácil pra você não
– *suspiro*
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