sexta-feira, dezembro 15, 2006

Por fora bela viola, por dentro pão bolorento.


Essa eu achei no Jacaré Banguela, na seção "Morcegando" (é, mesmo trabalhando, depois do almoço sempre há a necessidade de se esperar a digestão): um chinês ia calmamente pela rua até encontrar um vendedor ambulante, que lhe oferece nada mais, nada menos, do que um receptor de satélite compacto, de fácil instalação, pela bagatela de USD 2,50. Barato? Acho que sim, no Submarino vi uma por R$ 439,00. "Vale a tentativa", ele pensa. O chinês, então, aceita, paga o camarada e ruma para casa ansioso.

Enfim, feliz da vida, o cara chega em casa, vislumbrando as centenas de canais que poderá sintonizar por apenas USD 2,50, sem pagar assinatura, nem instalação, NADA. Então ele instala o aparelho e... bom, era de se esperar... NADA! Dentro do
"receptor" ele encontrou uns dois parafusos e um pedaço de plástico. UM VERDADEIRO NEGÓCIO DA CHINA.

Bom, esse artigo gringo pode muito bem ser alguma invenção, para render algumas visitas extras ao blog (Regra nº 1: desconfiem de tudo na internet). Mas que essa situação é muito provável de acontecer, isso é.

Não se assustem se isso acontecer no Brasil qualquer dia.

"Lá em casa ainda daria para aproveitar os parafusos e pendurar o varal. A patroa tá reclamando..."

Mas o que eu queria mesmo comentar era outra coisa.

Outro dia tava lendo uma notícia de que um diretor da Microsoft, exatamente da gerência de combate à pirataria da empresa, esteve no Brasil. Não me lembro o nome dele, nem o motivo pelo qual ele veio ao Brasil. Acredito que deve ter rolado algum congresso por estas terras com palmeiras, onde cantam os sábias. Chegou no Brasil, conheceu e elogiou a nossa legislação (a reportagem diz ser uma das mais avançadas do mundo), e, a convite do repórter, foi ao Centro de São Paulo.

É, a legislação avançada de nada adianta. Uma versão do "Windows Vista", que nem foi lançado ainda, já estava à venda nas ruas, com os ambulantes. E era aqui que eu queria chegar. A nossa Constituição cidadã é
esquecida pelos próprios aplicadores do direito (acesso restrito, infelizmente).

Um país como o nosso, que não só no combate à pirataria, mas em diversas outras áreas, possui leis extremamente avançadas, complexas do ponto de vista jurídico, mas que não funcionam. Não funcionam pois não há instrumentos suficientes para que sejam aplicadas. No caso da pirataria, não basta uma legislação avançada. É necessário um conjunto de esforços, de monitoração das fronteiras, cadastramento de ambulantes, fiscalização dos pontos de comércio de produtos pirata (todo mundo sabe onde ficam), com a participação ativa da polícia e do Poder Judiciário.

Contudo, por aqui as coisas não acontecem. O problema não está só na pirataria. Acho que falta vontade e investimento.

Ampliando um pouco o foco, para além da pirataria, eu diria que investimentos certeiros, em educação, capacitação de professores, capacitação técnica para os trabalhadores e a criação de novos postos de trabalho são essenciais. Na minha opinião, toda sociedade se sustenta em três pilares fundamentais: educação, trabalho e economia. A educação capacita o trabalhador que movimenta a economia.

"Demagogia! Utopia!"

É, como diria um amigo meu do escritório: "It is a shame, but it is my country". Como fazer isso ainda é um dilema para mim. E essa é uma das minhas maiores angústias. Ainda não consegui me deparar com nada que eu possa fazer para colaborar com a melhora dessa situação.

Mudanças estruturais são essenciais e o resultado virá a longo prazo. Todavia, "a longo prazo" não ganha eleição. No nosso país as coisas só funcionam em favor do interesse na manutenção e perpetuação do poder de tucanos, petistas, peefelistas, filólogos do PMDB. Um jogo de interesse sem ética, moral e nem fim.

Temos muitos políticos interessados no Brasil e não somente no poder. Infelizmente ainda são a minoria e não conseguem espaço, pois a grande maioria de nossos representantes são como o receptor de satélite adquirido pelo chinês: por fora pela viola, por dentro pão bolorento.

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