sábado, julho 31, 2010

Voei.


23h15, 28 de Julho de 2010, embarquei no voo JJ 8084 com destino a Londres.

Era o início de uma viagem que planejei durante dois (longos) anos. É possível imaginar o quanto ansioso e excitado eu estava naquele momento.

As aeromoças todas sorridentes e receptivas, como sempre o são. Mas, na minha interpretação, elas sorriam de um modo especial, apenas para mim, como se compartilhassem da minha alegria. Eu podia imaginá-las pensando, em aprovação: "é isso aí, chegou a hora pela qual você tanto esperou".

O simples entrar no avião foi algo cheio de significados. E, por essas coisas do acaso, para coroar o momento, a música ambiente que tocava no avião, logo que me sentei na poltrona 29 K do Boeing 777, era 'Rondó do Capitão', dos Secos e Molhados.

Os versos ecoaram em meus ouvidos, reverberando nos sentimentos que me sufocavam depois da recente despedida de pessoas tão queridas. A despedida foi como toda despedida acaba sendo: carregada de emoção.

Ao ouvir a música, o coração continuou apertado. Mas tudo pareceu fazer algum sentido.

Senhor Capitão, tirai esse peso do meu coração. Não é de tristeza, não é de aflição. É só de esperança, Senhor Capitão!

quinta-feira, julho 22, 2010

A felicidade, essa superestimada.


O que faz você feliz? O que é ser feliz? Como se mede a felicidade?


Tenho a impressão que muitas pessoas nunca chegam a se fazer essas perguntas e, muito menos, procuram tentar respondê-las. Ainda que as pessoas não estejam necessariamente preocupadas em saber o que é a felicidade ou o que as fazem felizes, a grande maioria busca essa tal felicidade.

Independente do que entendo (ou ignoro) sobre a felicidade, fato é que o Congresso Nacional brasileiro está se movimentando para garantir o direito à busca da felicidade pelos cidadãos brasileiros. É isso mesmo: existe um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que pretende incluir a “busca da felicidade” no capítulo da Constituição Federal que trata dos direitos sociais (mais precisamente, no artigo 6º).

O projeto vem sendo chamado de "PEC da Felicidade" e é promovido pelo Movimento Mais Feliz.

A ideia pode ser muito bonita, todavia, na minha opinião, essa "PEC da Felicidade" não muda nada. É muita retórica e demagogia para pouca ação. Mesmo sabendo que a PEC não pretende garantir a felicidade, mas, sim, a sua busca por cada cidadão, não consigo concordar.

Primeiro, porque sou da opinião que isso não precisa estar escrito na Constituição. Até por conceito, a Constituição não deve se prestar a estabelecer uma garantia social carregada de tanta subjetividade quanto a "busca da felicidade".

Segundo, porque, sinceramente, estando escrito ou não, não vai fazer a menor diferença. O que faria a diferença seria efetivamente buscar a educação, a saúde, etc. (o que, diga-se, já está previsto na Constituição, nesse mesmo artigo 6º que se busca alterar pela "PEC da Felicidade" - e, até hoje, não vemos grandes mudanças...). A felicidade, daí, poderia vir como consequência (ou não, pois depende de cada pessoa). Em resumo, não é a inclusão desse texto que vai fazer a diferença.

Finalmente, e o mais importante, eu não consigo concordar com a PEC porque ela parte da premissa de que existe uma tal felicidade, plena e irrestrita, possível de ser usufruída por toda e qualquer pessoa, desde que garantidos determinados direitos sociais.

A verdade é que a tal da felicidade é algo bastante superestimado pela sociedade moderna e capitalista, que a idolatra e a coloca como um objetivo final a ser alcançado, ao lado da glória, da fama e do dinheiro.

O que vejo por aí sobre a felicidade é um conceito muito superestimado, utópico, inatingível e distante da realidade, pelo qual a felicidade sempre estará dois passos adiante de onde nos encontramos. A busca pela felicidade, então, se torna uma pressão desnecessária e que dificulta a conjugação do verbo viver.

Eu procuro não tentar descobrir onde está a felicidade. A bem da verdade, já desisti de a procurar. Não porque eu tenha concluído que ela não existe ou porque entenda que ela seja inatingível. Mas, sim, porque passei a acreditar que buscar ou não a felicidade não é o mais importante. Se ela existe ou não, o que ela significa e representa, se está próxima ou distante, não é algo que me interessa.

Reconheço ter vivido muitos momentos felizes e dou valor a cada um deles. Prefiro, porém, não carregar o fardo de ter a felicidade como objetivo. Apenas desejo que ela dê as caras de tempos em tempos, aleatória e despretensiosamente.

Talvez simplesmente não exista a felicidade plena, tal como retratada em filmes, novelas, etc., mas momentos felizes, que muitas vezes não são notados de imediato, senão depois de vividos. E acho que isso basta.

* * *

Para maior reflexão, para quem se interessar, deixo abaixo os trechos e os respectivos links para três textos sobre o assunto:
O que é a felicidade? Como você define a felicidade? Os filmes nos mostram uma utópica. Os romances, idem. Eu sonho com um dia na praia, coqueiros, céu azul, sem nuvens de preferência, com uma linda mulher e uvas sendo colocadas na minha boca. Acho difícil que aconteça, mas quem sabe.Tudo é tão pretensioso. Tudo deve ser tão sofisticado. Nunca estamos satisfeitos com o que temos. Aposto que se eu estivesse na praia, com os coqueiros, um lindo dia e uma linda mulher, ainda me faltaria a sombra.
Em matéria de felicidade, os governos podem oferecer as melhores condições possíveis para que cada indivíduo persiga seu projeto - por exemplo, como sugere a emenda constitucional proposta, garantindo a todos os direitos sociais básicos. Mas o melhor governo é o que não prefere nenhuma das diferentes felicidades que seus sujeitos procuram.
(O Direito de Buscar a Felicidade por Contardo Calligaris)

Em minha modesta opinião, o ponto fraco desse artigo, e de outros similares, dessas pesquisas, e de outras similares, é uma completa incapacidade de definir.... felicidade! Afinal, o que é felicidade? É um estado de êxtase? São momentos de transcendência? É simplesmente a ausência de dor? É o prazer? Como medir isso de forma objetiva? Como medir isso de forma objetiva para pessoas de culturas diferentes, com valores diferentes, com prioridades diferentes?
* * *

A maior certeza sobre a felicidade foi cantada por Vinícius de Moraes e Tom Jobim:
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.
Abaixo, a interpretação de Tom Zé:

Pensamentos de uma noite escura.


Revirando meu caderno de anotações, encontrei esse rascunho, escrito no dia do apagão, em novembro de 2009.

Talvez seja intempestivo, como de fato quase tudo o é nesses dias de conectividade absoluta e ininterrupta. Mas essas palavras tem a sua importância (ao menos para mim).

* * *

(23h27, 12 de novembro de 2009)

1. Estou aproveitando o apagão (e o refluxo) para escrever, porque só ouvir rádio e pensar não está funcionando.

2. Eu estava voltando para casa, na Rua França Pinto, quando tudo apagou. O mais estranho é que alguns carros parados na rua começaram a apitar o alarme no exato mesmo segundo em que o apagão aconteceu. Não entendi nada. Na hora, achei até que tivesse sido uma descarga elétrica, algo localizado na região, porém, na sequência, já imaginei algo maior, porque a rua estava muito escura. Só depois foi entender o que estava acontecendo, quando liguei o rádio.

3. Há 10 anos (em 1999) aconteceu a mesma coisa (mas eu tava na Nova Zelândia!). O pessoal da oposição deve estar comemorando, pensando em usar isso contra a Dilma no ano que vem (em 2010). [Nota de Atualização: acho que usaram mesmo esse episódio um pouco, mas nada que tenha abalado a canditatura Dilma]

4. Tem uma doida na rádio viajando na maionese, dizendo que a culpa é do Lula, que reduziu o IPI da linha branca; tinha que ser carioca! (haha, nada contra, adoro o RJ. É que o sotaque dela é exageradamente exagerado).

5. Acabei de ouvir que o problema é em Itaipu. Só podia. O Brasil depende demais dessa usina hidrelétrica.

6. É engraçado. Na hora que a luz apagou de vez aqui em casa (demorou quase 30 minutos depois do primeiro apagão), eu logo pensei nas pessoas que mais gosto e que me fazem falta, mas não consegui falar com ninguém. Nem os celulares estão funcionando. [N.A.: o que era um tanto óbvio, mas que não pensei no dia]

7. Impressionante como somos absolutamente dependentes da energia elétrica. Faz cerca de um mês eu andei pensando exatamente nisso: como seria difícil viver sem energia elétrica hoje em dia. Tudo, tudo!, funciona por conta da energia elétrica... Mas é óbvio que, pior do que ficar sem luz, é ficar sem água. Daí não tem condições, definitivamente.

8. Escrevendo à luz de vela. Acho que nunca havia feito isso. E estou torcendo para a luz não voltar e ninguém precisar ir trabalhar amanhã... [N.A.: A luz voltou...]

9. Agora começam as hipóteses: foi em Itaipu. Não sabem o porquê ainda. Estão dizendo ser fator externo (tempestades). Já está todo mundo correndo pra dizer que não tem nada a ver com o apagão de 1999 e o racionamento de 2001.

10. Nessas horas faz falta o computador e estar conectado. Aí dá pra questionar se estamos desaprendendo a ficar sozinhos, pois a toda hora podemos estar online, conversando com algúem. Pode passar a falsa impressão de estarmos acompanhados. O que é, sim, verdade. [N.A.: essa frase não está fazendo sentido. Pelo menos, não mais. Mas na época devia dizer algo. Bom, ficará aqui registrada]

* * *

Foi preciso que acabasse a energia elétrica para que naquela noite eu fugisse da rotina e, então, resolvesse me ouvir. E foi preciso que o James Siqueira escrevesse esse texto para que eu encontrasse o rascunho acima e o postasse aqui.