O que faz você feliz? O que é ser feliz? Como se mede a felicidade?
Tenho a impressão que muitas pessoas nunca chegam a se fazer essas perguntas e, muito menos, procuram tentar respondê-las. Ainda que as pessoas não estejam necessariamente preocupadas em saber o que é a felicidade ou o que as fazem felizes, a grande maioria busca essa tal felicidade.
Independente do que entendo (ou ignoro) sobre a felicidade, fato é que o Congresso Nacional brasileiro está se movimentando para garantir o direito à busca da felicidade pelos cidadãos brasileiros. É isso mesmo: existe um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que pretende incluir a “busca da felicidade” no capítulo da Constituição Federal que trata dos direitos sociais (mais precisamente, no artigo 6º).
A ideia pode ser muito bonita, todavia, na minha opinião, essa "PEC da Felicidade" não muda nada. É muita retórica e demagogia para pouca ação. Mesmo sabendo que a PEC não pretende garantir a felicidade, mas, sim, a sua busca por cada cidadão, não consigo concordar.
Primeiro, porque sou da opinião que isso não precisa estar escrito na Constituição. Até por conceito, a Constituição não deve se prestar a estabelecer uma garantia social carregada de tanta subjetividade quanto a "busca da felicidade".
Segundo, porque, sinceramente, estando escrito ou não, não vai fazer a menor diferença. O que faria a diferença seria efetivamente buscar a educação, a saúde, etc. (o que, diga-se, já está previsto na Constituição, nesse mesmo artigo 6º que se busca alterar pela "PEC da Felicidade" - e, até hoje, não vemos grandes mudanças...). A felicidade, daí, poderia vir como consequência (ou não, pois depende de cada pessoa). Em resumo, não é a inclusão desse texto que vai fazer a diferença.
Finalmente, e o mais importante, eu não consigo concordar com a PEC porque ela parte da premissa de que existe uma tal felicidade, plena e irrestrita, possível de ser usufruída por toda e qualquer pessoa, desde que garantidos determinados direitos sociais.
A verdade é que a tal da felicidade é algo bastante superestimado pela sociedade moderna e capitalista, que a idolatra e a coloca como um objetivo final a ser alcançado, ao lado da glória, da fama e do dinheiro.
O que vejo por aí sobre a felicidade é um conceito muito superestimado, utópico, inatingível e distante da realidade, pelo qual a felicidade sempre estará dois passos adiante de onde nos encontramos. A busca pela felicidade, então, se torna uma pressão desnecessária e que dificulta a conjugação do verbo viver.
Eu procuro não tentar descobrir onde está a felicidade. A bem da verdade, já desisti de a procurar. Não porque eu tenha concluído que ela não existe ou porque entenda que ela seja inatingível. Mas, sim, porque passei a acreditar que buscar ou não a felicidade não é o mais importante. Se ela existe ou não, o que ela significa e representa, se está próxima ou distante, não é algo que me interessa.
Reconheço ter vivido muitos momentos felizes e dou valor a cada um deles. Prefiro, porém, não carregar o fardo de ter a felicidade como objetivo. Apenas desejo que ela dê as caras de tempos em tempos, aleatória e despretensiosamente.
Talvez simplesmente não exista a felicidade plena, tal como retratada em filmes, novelas, etc., mas momentos felizes, que muitas vezes não são notados de imediato, senão depois de vividos. E acho que isso basta.
Para maior reflexão, para quem se interessar, deixo abaixo os trechos e os respectivos links para três textos sobre o assunto:
O que é a felicidade? Como você define a felicidade? Os filmes nos mostram uma utópica. Os romances, idem. Eu sonho com um dia na praia, coqueiros, céu azul, sem nuvens de preferência, com uma linda mulher e uvas sendo colocadas na minha boca. Acho difícil que aconteça, mas quem sabe.Tudo é tão pretensioso. Tudo deve ser tão sofisticado. Nunca estamos satisfeitos com o que temos. Aposto que se eu estivesse na praia, com os coqueiros, um lindo dia e uma linda mulher, ainda me faltaria a sombra.
Em matéria de felicidade, os governos podem oferecer as melhores condições possíveis para que cada indivíduo persiga seu projeto - por exemplo, como sugere a emenda constitucional proposta, garantindo a todos os direitos sociais básicos. Mas o melhor governo é o que não prefere nenhuma das diferentes felicidades que seus sujeitos procuram.
Em minha modesta opinião, o ponto fraco desse artigo, e de outros similares, dessas pesquisas, e de outras similares, é uma completa incapacidade de definir.... felicidade! Afinal, o que é felicidade? É um estado de êxtase? São momentos de transcendência? É simplesmente a ausência de dor? É o prazer? Como medir isso de forma objetiva? Como medir isso de forma objetiva para pessoas de culturas diferentes, com valores diferentes, com prioridades diferentes?
A maior certeza sobre a felicidade foi cantada por Vinícius de Moraes e Tom Jobim:
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.
Abaixo, a interpretação de Tom Zé: